domingo, 29 de janeiro de 2012

Galo, de João Cabral. E corpo, de Cidinha

Galo e corpo
Um corpo sozinho não tece uma noite
Precisará sempre de um outro corpo.
De um que apanhe esse gemido que ele...
E o lance a outro; de um outro corpo
Que apanhe o gemido do corpo torto ....
E o lance ao outro; e de outros corpos
Que não mortos se emaranhem
Em fios dos gemidos de seus corpos,
Para que a noite, desde retângulos retos,
 enlaçando todos os corpos.

E se encorpando com olhares, entre todos
Se erguendo ramificado...entre todos
Se entretendo para todos no retângulo do corpo
(a noite) que plana livre de armação
A noite, retângulo de corpo de um reto tão curvo
Que, de reto, se eleva por si: une retângulos!

sábado, 28 de janeiro de 2012

Que saudade de você!


Que saudade de você!
Que coisa doida é essa que me aperta, acelera, me incomoda e me faz viva?
Que coisa maluca é essa que faz vibrar meus sentidos?
Ah um dia... um dia, quem sabe um dia...segredo desfeito,
Corpo perfeito e o momento do sonho...feito!

Quem sabe um dia...essa coisa doida endoidece ainda mais
Avante, alavanca, liberta, adianta ou sufoca. Não quero mais!

Uma tarde de chuva...que chuva!
Um braço que enlaça, um abraço que abraça
e  amassa e  sustenta e me faz vibrar
e me rodopia e me põe no colo e me protege
...e me invade!

O coração acelera e intensifica o transpirar
o respirar é único e único é o espaço
o espaço é para dois corpos, mas, temos um só!

Tomada por seus braços, envolvida pelo amasso
Respiro o ar que é nosso, beijo a boca sua
 e me embriago no seu cheiro, no seu gosto...
jeitos de pegar, modos de se soltar.
Entortar, amassar, apertar, abraçar
Deslizar, lamber, segurar um pouco mais
Pesar, deslizar e se demorar mais....


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Encontro marcado


Século XXI. Encontro marcado em meio a letras.
Você vinha, eu ia. Tudo já estava combinado
Um dia...chega o dia de cada um.
Às vezes, cada um chega num dia
E, à espera do outro, fica. E fica e fica
...e passa dia e passa  noite...
E o encontro continua marcado...

Há tanta demora, por que será?
“Quem sabe faz a hora”
Ora ora....façamos a nossa!
Para que esperar?

Século XXI. Ano 2012: encontro marcado!
Eu vinha, você ia, mas tudo já combinado...
Era preciso esperar: treinar a cabeça,
Treinar o peito, as mãos, o coração
Afinal, a chegada estava marcada
O encontro combinado...
Uma questão apenas de esperar o tempo,
O tempo que fora determinado...

Mas, para que esperar?
“Quem sabe faz a hora”
Ora ora....façamos a nossa!
Por que tanta demora?

Era preciso janeiro chegar. Ano 2012. Século XXI
Tempo de revolução!
Revolução da informática, das ideias, do coração.
Tempo de dois em um!
Encontro marcado: você veio, eu vim
Você veio de lá e eu vim de cá
Eu fui daqui e você veio dali
E, em meio a letras, chegamos!
Estendemos as mãos e entre frases cortadas e entrecortadas,
Ou palavras soltas, você sorria e eu ria.
Ora eu ria e você sorria e os corações abertos sorriam também.

Aquele encontro que um dia fora marcado...
Para o século XXI, no ano 2012, janeiro
Chegou trigueiro: olhares cúmplices, insinuantes,
Beijos roubados, letras trocadas, corações palpitantes....
Chegamos, enfim!
O encontro já estava marcado...era apenas questão de tempo
O tempo da espera teve sua razão de ser,
Tivemos de amadurecer para entender aquele verso do século XX:
“Quem sabe faz a hora”. Fizemos horas e hora...mas esperamos acontecer!

Você vinha, eu ia
Encontramo-nos no meio do caminho
“E no meio do caminho tinha uma pedra”
E, então, entendemos por que fizemos hora:
Fizemos hora no meio do caminho
Porque “no meio do caminho tinha uma pedra”
“Tinha uma pedra no meio do caminho”.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pessoas, com licença!


Com licença!
Cheguei pra ficar, pra ver o que pode com o que não pode.
Um dia diferente....bem diferente. Lá fora faz frio. Fora do espaço.
Aqui, concentram-se inúmeras pessoas buscando alguma coisa, qualquer coisa... me parece!
Toca-se e entoca-se. Canta-se. A música flui nos ouvidos e nos corações.
Baila-se, concentra-se, imaginam-se "loucuras" e os pés lá se vão - pra lá, pra cá - os corpos se cruzam e se encostam. É o ir e vir.
Como estarão estes corações? Concentram-se? Distanciam-se? Distraem? Riem? Sorriem? Não sei! Às vezes parecem estar chorando. Sabe-se lá. Ahhhhh...eles sabem!
Aumenta o som: "Se Deus quiser".
Se Deus quiser...e Deus quer: os passos se tornam mais velozes, mais dançarinos, bailantes e o espaço...o esconderijo de todos parece ser comum a todos.
E o pedido chega comum: Baila comigo? E lá eles se vão e vêm e vêm e vão.. A alegria está no ar! E quanta alegria! Não se cansam, meu Deus!
E a música continua. Os corações estão soltos, espalham-se pelo salão, os pés pouco se apoiam, deslizam....efetivamente deslizam pra cá e pra lá e tudo se explode: é um cantar único, balançante...aconchega. A alegria está no ar!
União de corpos. Vozes e pés se harmonizam. Aqui, o ritmo é único; lá fora, louco!
Pela porta, novos rostos, novos corpos, novos pés...chegam de fora para dentro. E os mais diferentes "bailares" vão se incorporando.

 Pessoas, com licença! Registrar este momento é registrar este momento. Nada além. Com licença, então!

Olhos curiosos se esticam - "o que terá nesse papel?"- Nada! Ou tudo? Nada além do que pode ter. E a caneta explode: estilhaços para o lado, para cima e para baixo. Ops! Apruma-se e a escrita continua.
O papel está por acabar...é um poço de surpresas. Surpreendo, mas há, também, outras surpresas.
As pernas são o apoio, não há mesas, cadeiras e nem chão livres. Todos ocupados. Os pés de todos agora estão mais próximos e eu....escorreguei. Meu corpo desliza pela parede que me apoia. Caí! Deixei-me cair para continuar a escrever, a descrever. Que coisa! O papel acabou!
Outro chegou rápido. Olhos curiosos observam atentamente.
É! Tudo tem seu momento, seu movimento, seu espaço, sua dor e a saudade.
Escrevo. Escrevo porque é preciso, é bom, é digno...não para preencher simplesmente, mas, tão simplesmente para apresentar, divulgar o que está no coração, no pensamento, no olhar!
Olho, visualizo, vejo 1000; vejo também sem o “1” e fica somente zero, o vazio, o nada!
Uns, além do que podem, rebolam, viram e se reviram; outros, timidamente, se encolhem e se acolhem a si mesmos.
É interessante. Há interesse e cumplicidade nos olhares, nos pés, nos passos.
Com licença, pessoas, mas, não podia deixar de registrar a cumplicidade de cada um com um; não podia deixar de registrar o tique-taque de cada coração no embalo da música e, por que não dizer, do tique-taque acelerado de cada coração quando enxerga o coração do outro que, em cumplicidade, vermelhos, bailam e rodopiam e vibram...
Pessoas, com licença! Permitam-se nessa travessia.
Felicidades!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Brincadeiras no céu

Brinca-se no céu num vai e vem espantoso. Espalham-se cores pelo seu azul já manchado de nuvens escuras...e, em cores mil de rabiolas brilhantes vibram lá no alto o ainda frescor da tarde, o sabor jovem, infantil até de liberdade!
Observo. Somente um longo fio o mantém preso às extremidades: de um lado a terra, o concreto, o real; do outro, a leveza do ar, o frescor jovial de mãos estendidas tentando ou alcançando o que não lhe é de domínio.
É a certeza de que lá no alto se vive bem. Vive bem? E as tentativas de lá também roubar o outro?
Roubar o outro papel colorido em varetas finas não é tarefa de um somente...tropeça nos muros, alcança quintais e telhados e rouba...torna-se dono do brinquedo! E, sendo dono permite-se estender sua mente e seus sonhos para o alto. Quer ultrapassar limites.
Mas, por que alcançar o alto? Lá, ninguém lhe rouba os sonhos...os sonhos que são somente seus até que não chegue outro com o mesmo desejo.
Agora mesmo pude observar o desespero de um vermelhinho. Tentou desviar-se de um pega, sacudiu-se como ninguém, desesperou-se, buscou a saída...era tarde demais...fora partido em pedaços e rolou rolou rolou até atingir o chão ( o outro lado) onde estava ansiosamente sendo esperado.
Seu sonho fora esfacelado em pedaços mil, perdeu sua cor, seu nome, o rumo....seus sonhos se foram!
E a chuva imprudente chega!

domingo, 22 de janeiro de 2012

Sem título

     Mais uma madrugada. A noite estava fria. O relógio da matriz daria apenas uma badalada...faltavam poucos minutos.
    O cocorocó convidava-me ao longe a esperar a resposta de outos cocorocós.
    Era noite lá fora; no meu quarto, era dia; em mim, a escuridão acompanhava a noite fria.
    O cobertor não aquecia. Acendi um cigarro. A fumaça incomodava, mas eu precisava de companhia. Amigo? Inimigo! Bem a mim não fazia.
    Joguei o cobertor e o galo insistia. Ele também queria companhia. Mas, ele não sentia frio nem ausência...certamente teria resposta ao apelo.
    Atirei longe o cigarro. Esmaguei o travesseiro e ele não gritou! Por que fica tão silencioso? Faço-lhe orelhas e ele nem resmunga.
    Já soou a terceira badalada. Naquele canto nem a fumacinha do cigarro está mais presente. Sinto frio.
    Abro a janela. Os carros gélidos, friíssimos. O galo não canta mais. Outro e outro e outro cigarro. Agora, a fumaça naquele cantinho faz-me companhia.
    O relógio ao longe insiste. Tenho frio.
    O cocorocó reinicia. O quarto torna-se mais claro. Os olhos arenosos permanecem firmes para mais um dia que recomeça.
    Haverá repetição desse filme ainda hoje. Basta o sol baixar e, assim, a noite chegar.

um homem da construção

Veja!
Mão. Mãos.
Mãos de um homem
marcadas pelos tijolos pesados,
escorregadios, às vezes,
talentosos na construção.

Muitas fizeram desde quando pequeno eu era:
de roça, de enxada,
de terra vermelha, de pés descalços,
enlameados fazendo bota.

Já de filhos criados chegeuei à cidade
sem eira, nem beira.
Mãos...e as sacolas penduradas.
Mãos
que não aprenderam a unir vogais,
consoantes, formar palavras, frases....
mas, souberam construir:
"tijolo sobre tijolo num desenho mágico" até arranha-céus.

Mãos:
acalentaram crianças,
afagaram tijolos
amaciaram cimento, areia e água.
Mãos que plantaram feijão, plantaram arroz,
Mãos que cozinharam feijão e arroz na panela preta!

Mãos.
E hoje? O que fazem?
Mãos trêmulas, enrugadas,
apagadas...
não constroem mais!!

Nem os cabelos dos netos afagam
nem colher para mexer o feijão com arroz seguram
nem o nada acalentam.
Mãos!
Perderam o valor.

Aposentado
de sálario mixo para 70 anos de construção.
"Encostado"
velharia,
zero à esquerda,
nem escada
nem patamares
nem tijolo sobre tijolo...nada mais!

De homem,
de construção resta o nome: - Sebastião!
de pai ficou a lembrança...o coração.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Pequena trajetória

       De uma barriga comum....não foi desta que nasci!
       Aprontaram-me para o mundo: mãos, veias, sangue, corpo...tudo pronto...é hora chegada e com ela eu vim. Doze badaladas de um relógio na praça...o sol ardia! Minha mãe suava, gemia...arrancaram-me dela à força. Acho que queria a penumbra pelo tempo afora.
       De ruas descalças, de portas sem trancas, em casas sem muro vivi. Foram sete anos. Saudade? Muitas!!
Alimentação? Restrita demais.
Carne? Nem sei quando chegava....
Televisão? Não conheci.
Rádio? Não ouvi.
Amigos? Inúmeros naquela rua descalça por onde somente os cavalos passavam; pés desnudos de crianças... e os de adultos... chinelos.
SÃO PAULO: a cidade maravilhosa, da garoa, das ruas "enroupadas", das crianças abandonadas, dos jovens desmiolados, das trancas nas portas, dos muros altos e de grades nas janelas.
Vivi aqui.
Vivo ainda aqui. Vivo? Cresci com medo! Tenho-o ainda aqui guardado.
Fui de escola do Estado; meu pai, pedreiro; minha mãe, só mãe! meu irmão vendendo jornais. Morei nas construções da cidade grande: sem janela, sem porta...por vezes, sem teto!
Cheguei ao curso superior - Puc - particular! Vizinhos pagavam a mensalidade...havia gente boa nessa cidade!
Andei de barriga empinada por nove meses pelas ruas do bairro, a caminho do centro da cidade, de chinelos de dedo e roupas doadas...foi duro! Não me envergonho...tenho as lembranças - bem vivas - ainda comigo.
Outras barrigas me impulsionaram. Fui avante. Cheguei. Estou. Hoje sou....simplesmente feliz!
Pais? Meu pai foi para o outro lado. Do lado de lá me vê e sorri pela flor que brotou e floriu tantos canteiros.
Minha mãe está aqui: bela...uma flor já murcha pelo tempo, mas ainda sedenta pela vida. Um pouqinho de água todo dia e ela sorri! Tão simples.
Hoje já tenho quem possa continuar a história e contar a sua! Minha casa tem teto e o mais duro de tudo: tem grades nas janelas!

Descobrir

Viver
viver e descobrir, descobrir para viver mais sabiamente!
viver vale a pena até quando se pensa na pena que se esvai e alcança o céu: ora azul, ora cinzento.

descobrir
descobrir o poder da vida
                             do milagre
                             do dia, da noite
e descobrir a vida, ela nela, por ela...tão simplesmente nela mesma
                             própria, imprópria
                             maior, menor...não importa! É a vida pela vida

Meu coração tá grande
                     tá aberto
                     tá vermelho
                     tá certo
                     tá aconhegante
                     tá malandro
                     tá incenssante...incansável na busca!

...a letra tá pequena
o papel tá branco
a caneta tá preta
não há pranto
não há canto escondido
tá tudo tão bem sentido
tão claro, tão evidente!
descobrir, descobri...descoberta!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Bem de mansinho, como quem não quer nada foi se achegando. Um oi, um outro oi; um oi como você está? e outros ois e outros e outros. A expectativa vai ganhando espaço, o coração acelera, a respiração falta...o dia passa, a noite passa...passam dias, passam noites e, de mansinho, um outro oi!
O coração se espreme. É ele com ele.
Minutos vêm, minutos voam e bem longe a voz clama, o desejo chega - bem de mansinho -, a vontade,  o querer, o possível, o impossível..todos embaralhados, emaranhados. Passam dias, passam noites e um outro oi. O outro chega agora, embora temeroso, mais firme.
O pensamento se espreme. É ele com ele e é ele com o coração. Estão emaranhados!
O encontro, o sorriso, o caminhar, o chegar e abraçar. Tão apertado, tão aconchegante...uma vontade de para sempre. O caminhar, a espera, o filme numa tela, o respirar...agora tão mais forte, mas tão de mansinho!
Agora o corpo se espreme, se estremece, enlouquece. Não é somente ele com ele. Há o outro!
O coração: ele com ele.
O pensamento: ele com ele e ele com o coração.
O corpo: ele com ele e ele com o pensamento e ele com o coração. Além deles, o corpo com outro corpo: o seu!

Não foi por acaso

se não voltar, não importa. Ou... importa?
se não voltar, faça tudo prosseguir. A vida continua.
se não voltar, não pense. Mas, se puder, reflita!

se não der tempo....não importa "não deu tempo!"
se não der tempo.....Ahhhhhhh se não der tempo...não deu tempo!
se não der tempo, não pense. Se puder, relembre!

...e a frase síntese de tudo isso brota: Nada foi por acaso!

era importante chegar, era importante voltar
era importante prosseguir, era importante refletir
é importante não pensar!

Traga à memória a lembrança. Não foi por acaso!